Votar pode ser tão simples e familiar quanto enviar uma mensagem de WhatsApp ou fazer compras online. As próximas eleições europeias representam a oportunidade perfeita para demonstrar esse progresso.
Cinquenta anos depois, realizamos compras online, tratamos do IRS e da Segurança Social através de balcões virtuais, e fazemos pagamentos por telemóvel, mas continuamos a votar da mesma forma tradicional: em papel e numa urna de metal. Segundo dados recentemente divulgados pelo Eurobarómetro, a esmagadora maioria dos portugueses valoriza o Parlamento Europeu — um bom sinal. Desses, 57% consideram muito provável votarem nas próximas eleições, mas apenas 9% sabem em que dia estas ocorrem e onde devem votar. Esta carência de informação não é aceitável, especialmente num país desenvolvido que se prepara para celebrar 50 anos de democracia.
A modernização do nosso sistema de voto é crucial para assegurar a saúde da nossa democracia. Quanto mais complexo for o processo de votação, mais frágil se torna. Países que implementaram o voto eletrónico registaram um aumento na participação eleitoral. Além disso, o voto eletrónico pode reduzir significativamente os custos associados à organização das eleições e agilizar o processo de contagem dos votos. Após a implementação do voto por correspondência e do voto antecipado, o voto eletrónico surge como o passo seguinte, proporcionando maior conveniência e acessibilidade aos cidadãos.
Por outro lado, sabendo que 85% dos portugueses utilizam a Internet regularmente, torna-se evidente que as plataformas digitais são meios excelentes para comunicar com os eleitores. O governo tem o dever de desenvolver plataformas que disponibilizem informação clara e atualizada sobre as datas das eleições, locais de voto, procedimentos de voto antecipado e requisitos de registo eleitoral, que vão além dos websites existentes da CNE ou do MAI, criando sites especificamente para este fim.
Os jovens portugueses valorizam o 25 de Abril e as liberdades conquistadas, contudo, o INE revela que cerca de 20% dos jovens entre 18 e 24 anos não estão inscritos para votar. É essencial que o país invista nestes jovens, facilitando o seu acesso ao voto. Investir em campanhas abrangentes, em escolas, universidades e comunidades locais, é um passo crucial para fomentar uma cultura democrática e o exercício deste direito.
Além disso, garantir a segurança e a integridade do voto eletrónico é vital. É fundamental investir em medidas robustas de proteção de dados e cibersegurança para assegurar a confiabilidade do sistema. Deve ser possível fornecer informação sobre o processo eleitoral em diferentes formatos e línguas, de modo a incluir todos os cidadãos. Se conseguimos implementar medidas de segurança eficazes na banca, nas finanças e em outros serviços essenciais, por que não no processo de votação?
A modernização da democracia não é apenas um capricho modernista, mas uma necessidade para concretizar as aspirações democráticas. Ao celebrar os 50 anos do 25 de Abril, é imperativo que os políticos tomem decisões alinhadas com as aspirações dos nossos jovens e da população em geral. Votar pode ser tão simples e familiar quanto enviar uma mensagem de WhatsApp ou fazer uma compra online. As próximas eleições europeias representam a oportunidade perfeita para demonstrar esse progresso.
Original: https://observador.pt/opiniao/50-anos-a-votar-da-mesma-maneira/