DE REGRESSO A PORTUGAL

Não devemos
explorar o petróleo,
(que não tem futuro),
mas transformar
Portugal no jardim
do Mundo.

 

CEO e investidor de várias empresas no mundo, conhecido do grande público português, pela participação – como maior investidor – na primeira temporada do programa Shark Tank Por tugal, na SIC. Filho de pais portugueses, nasceu a 18 de julho de 1975 em Joanesburgo, na África do Sul.
Tim Vieira teve uma infância feliz. Foi o primeiro elemento da família a nascer naquele país. Sentia-se muito acari nhado e o centro de todas as atenções. Recorda a Tia Elda e o Tio Estevão, que com ele organizavam pic-nics e mati nés de cinema. Os seus avós também foram muito presentes. Seus pais, não obstante, trabalharem muito, nunca descuraram a atenção dedicada, pas sando com ele momentos de qualidade no convívio com a natureza, em cam pismo e passeios.
Desde tenra idade que vinha a Portu gal passar um mês de férias – dado que o pai trabalhava numa companhia de aviação – repartindo a sua estadia en tre Portimão e Vila Franca de Xira. Os seus dois filhos rapazes, nasceram em Angola e a sua filha (o elemento mais
novo) nasceu em Portugal, há nove anos, circunstância que o trouxe ao nosso país e por cá ficar mais tempo, sendo que de modo muito frequente o faz há cinco anos. Define a sua vida familiar nuclear (mulher e filhos) e pro fissional como uma «salada russa», no sentido em que perpetua a comu nhão das suas experiências com a sua «tribo». Diverte-se em família, traba lhando.
Segundo Tim Vieira, a sua tendência em diversificar os seus investimentos, deve-se em 80% à sua personalidade «sem foco», que o recheou de amiza
des vindas do desporto, da música e das mais diversas áreas de formação, porque do que gosta mesmo é de pes soas e desse «mix» de conhecimento e inspiração. Os restantes 20% tradu zem-se na consciência da estratégia em apostar em dois centros geográ ficos (África e Europa), que abrem a possibilidade de sucesso. «O que está bem hoje, pode não estar amanhã e é necessário estar atento e equacionar essas oscilações». Acredita em África porque é um continente em ascensão, sendo que atualmente as populações registam menores níveis de mortali dade infantil, conseguem providenciar a sua alimentação autonomamente e com mais facilidade. «Além disso em África os nossos produtos e serviços marcam a diferença de forma mais significativa e vantajosa, o que não acontece por exemplo na América. A língua, mas especialmente a cultura portuguesa, facilitam a garantia desse sucesso».
O visionário aposta no Turismo em Portugal. As unidades hoteleiras pre vistas «serão mais do que quartos». O alojamento promete «os melhores colaboradores», dentro duma filoso fia de crença profunda nos recursos humanos. A sua localização obedece a critérios de colaboração e entrega das populações circundantes, que propor cionarão aos seus clientes experiências pessoais e sociais únicas. Pretende que os seus clientes «extravasem a estadia no quarto, conversem e convivam». Prevê que até 2050 iremos assistir ao dobrar do número de pessoas a viajar pelo Mundo e sabe que essas pessoas
procuram experiências novas. Questionado sobre a eventualidade de Portugal vir a ter um Ministério do Tu rismo e outro da Criatividade e Inova ção empresarial, Tim Vieira responde que apoia tudo que ajude a elevar o nosso país, sendo que na sua opinião quer o anterior governo, quer o actual, muito fizeram no sentido de colocar Portugal no mapa do melhor Turis mo Mundial. Reconhece, a par desse esforço, a afirmação de muitos e bons empreendedores. No seio do que me lhor Portugal pode oferecer alerta para a necessidade de preservar especifi cidades, avaliar e definir a autentici dade do país: «não devemos explo rar o petróleo, (que não tem futuro), mas transformar Portugal no jardim do Mundo. Portugal merece um olhar cuidadoso».
Em relação ao excesso de impostos praticados em Portugal, Tim Vieira mostra o seu desagrado pela circuns tância de empresários (nomeada mente pequenos e médios) se verem obrigados a pagar IVA, sem antes au ferirem lucros. No seu entender fa ria mais sentido facultar um período experimental de 18 meses. «Assim também os empresários poderiam re munerar de forma mais justa os seus colaboradores». Uma das activida des económicas onde lhe custa mais ver estrangulados os apoios fiscais e outros é a da Agricultura. Testemu nha que pequenas e médias empresas vêm-se a braços com grandes difi culdades, diariamente. Sendo elas que nos alimentam várias vezes ao dia, causa-lhe indignação. Abordado sobre o caso do BES e suas repercussões sentidas nomeadamen te nas indecisões de mais emigrantes e estrangeiros em investir em Portugal, Tim Vieira refere que esses casos não são exclusivos a Portugal. Adianta ain da que o próprio, seu Pai e sogro foram lesados e sentiram a dor de perder o resultado de muitos anos de trabalho.
«Dói muito». Mas mais do que remoer nessa dor, que pertence a cada um e a todos, alerta que seria importante termos respostas concretas, o apuramento das responsabilidades e opera rem mudanças. Acrescenta que «en quanto não existirem essas mudanças será complicado exigir que as pessoas invistam e apliquem o seu dinheiro em Portugal».
No que diz respeito às competências profissionais que lhe saltam à vista na hora de apoiar um empreendedor, o empresário elenca: a capacidade de resolução de problemas; a capacidade de trabalho em equipa (usa a metá
fora do râguebi, jogo no qual os joga dores inúmeras vezes lançam a bola para trás, dando ao colega de equipa a oportunidade de rematar à baliza, pondo o brilho no esforço conjunto); a criatividade; o « saber ser» ( valores éticos); a capacidade de desenvolver network e a capacidade de liderança.

Refere que os portugueses acrescen tam o «talento do desenrasque es pontâneo» e a apetência para falarem línguas. Fica também rendido a tanto talento no desporto, na música e na gastronomia. «Tudo isso eleva o ser humano, com o qual o robot nunca vai concorrer. Ja mais um robot se arrepiará de modo autêntico com o cheiro da terra de Áfri ca ou com um nascer do sol nos Açores, porque não tem história, infância nem memórias, mesmo revestido de pele humana».
A propósito da frase de Nelson Man dela: «A Educação é a arma mais po derosa para se mudar o Mundo», o inovador refere que a sua empresa «Bravegeneration» lançou um projeto denominado: «Education Ne twork», que chama os melhores es tudantes mundiais a Portugal, numa parceria com a Universidade Nova. Também a mesma empresa tem já em funcionamento um projecto pós curricular, o «Generation Entrepre neurs Club», centrado na faixa etária entre os 12 e os 15 anos, que prepara, desafia e incentiva os jovens para a necessidade do contacto pessoal, em conversas e atividades temáticas, que lhes proporcionam experiências tera pêuticas, no sentido de trabalharem os medos e os afastarem.
« Quanto mais conversas menos medo haverá no Mundo», remata.
Relativamente às atividades da res ponsabilidade do Estado Português, (e depois de visitar uma prisão portu guesa), o inovador mostra-se preocu pado com a existência da exorbitância no número de presidiários em Portu gal. Também com o facto de as prisões serem ainda «ilhas» e ainda com a precária integração dos ex-presidiá rios na sociedade. Para Tim Vieira é importante que a sociedade faça uma reflexão no sentido de aprender a per doar e apoiar as pessoas que comete ram erros e infelicidades: «quem não os cometeu? É necessário caminhar em frente». Refere ainda a urgência dessa reflexão, tanto mais que o Es tado português despende de cerca de 1.300 euros por mês por cada pessoa em prisão efetiva, ironicamente o equivalente a aproximadamente dois ordenados mínimos, num total de cerca de 250 milhões de euros.

Original: OM01

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