Soft Power vs Hard Power

Num mundo em que os países não conseguem competir em todas as frentes, é crucial utilizar recursos limitados de forma eficaz, destacando-se como um ator relevante na política de soft power ou hard power. As nações devem escolher entre se destacar no soft power (influência, propaganda e diplomacia) ou no hard power (poder militar, agressão e intimidação).

O soft power refere-se à capacidade de alcançar objetivos através da influência, da cultura e dos valores nas políticas internas ou externas. Ele busca promover uma visão fundamentada em valores, ideologias e interesses comuns. Nos últimos cinco anos, a balança do poder parece ter-se inclinado novamente para o lado do hard power, com países a adotarem posturas mais agressivas na busca por resultados. No entanto, o hard power isoladamente frequentemente falha em produzir os efeitos desejados, evidenciando assim a importância do soft power.

A relevância do soft power é imensa, especialmente com a ascensão das novas tecnologias. As plataformas de redes sociais e os avanços em inteligência artificial (IA) podem servir como poderosas ferramentas para disseminar pontos de vista ou agendas a audiências amplas. Pequenos investimentos podem ter um impacto significativo para quem tem acesso e compreensão das tecnologias disponíveis. Anteriormente, o soft power era composto por diplomatas altamente qualificados, embaixadores renomados e personalidades culturais; hoje em dia envolve a utilização das tecnologias mais eficazes para transmitir mensagens a grandes públicos.

Uma estratégia de soft power bem-sucedida revela-se capaz de influenciar os meios tradicionais através de subsídios específicos, além de regular plataformas online através da legislação que afeta algoritmos ou cancela contas indesejadas. A censura e a propaganda têm sido ferramentas recorrentes que oferecem vantagens àqueles que sabem usá-las. Antes e durante a Segunda Guerra Mundial, Joseph Goebbels destacou-se no uso dessas estratégias para propagar o antissemitismo na Alemanha. Atualmente, muitos “Goebbels” modernos aproveitam teclados, podcasts e redes sociais para disseminar desinformação que serve aos seus interesses.

O controlo da informação tornou-se um campo de batalha fundamental: observamos Elon Musk adquirir o Twitter para transformá-lo no “X”, enquanto milhões são investidos por chineses em plataformas como TikTok. Tais plataformas têm o poder de amplificar narrativas favoráveis e silenciar opiniões consideradas inconvenientes às suas agendas. Para garantir uma alta visibilidade na arena pública atual é necessário possuir uma plataforma que alcance milhões ou até bilhões de utilizadores – juntamente com um algoritmo eficaz capaz de expandir o alcance do seu soft power.

Governos à volta do mundo não podem mais ignorar a sua influência sobre as percepções públicas ao censurarem redes sociais ou meios tradicionais. Vimos isso nas audiências do Congresso dos EUA onde dirigentes da Meta admitiram pressões governamentais durante a pandemia de Covid-19 (silenciando vozes críticas) e nas eleições presidenciais acerca do assunto Hunter Biden.

O uso do soft power não se restringe apenas à consecução de objetivos; também pode ser empregado para dissuadir ações indesejadas através das chamadas “linhas vermelhas”. Alguns países demonstram disposição para condicionar a sua colaboração aos interesses alheios caso as suas ordens não sejam seguidas.

Espero que estas reflexões o façam considerar a importância da influência estratégica e a necessidade urgente dos países terem uma visão clara e um plano robusto para garantir a sua relevância no jogo do soft power – evitando ficarem à margem neste cenário global dinâmico. A paz pode ser definida como o intervalo entre guerras, mas o papel do soft power é crucial na determinação desse equilíbrio delicado. Infelizmente, as situações raramente são simples; frequentemente são moldadas pela narrativa dominante imposta por aqueles detentores do poder.

Tim Vieira

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